Textos





Candy, Caó e Vilefort, em Paris, 1985


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Almofadas com pelos de gato e outros desenhos de Caó, é poesia, magia, non sense...




(Texto de Angela Peroba)

Os desenhos de Caó em mais esse livro, "Almofadas com pelos de gato" encantam a alma, com poesia, non sense, magia e o lirismo dos loucos que nos fala Manoel Bandeira em seu "Poética". Desenho inconfundível, humor e poesia que nutrem cabeça e alma, nos levam a interagir com seus personagens, com a empatia que nos faz olhar com seu mesmo olho felino seus incríveis gatos e outros bichos, todos mais ou menos humanos ou às vezes, nem tanto... Cúmplices de suas travessuras, passeamos pelos desenhos inspiradores de Caó, que nos transportam à música das esferas de uma banda felina de jazz, transitando pela mordacidade dos ratos mais que espertos e suas almofadas traiçoeiras; entre o humor e a poética, a ironia e seu olhar contemplativo, viajamos juntos nessa jornada lírica, surreal/ transcendental, que nos eleva a um ponto acima da terceira, a dimensão básica de nós aqui na Terrinha. Do gato encantador de serpentes que faz uma cabeça black de uma elegante lady nos encantar com a transmutação de cabelos em "serpentes capilares"; o gato músico com seu violoncelo nos quer cúmplices de seu desatino de usar o próprio rabo para tocar seu instrumento ou a empatia de um lírico louco bebum que serve sua caninha na própria carinha de um gato selvagem que magicamente ali tem uma taça no focinho transmutada! Na rua, sem marquise, os dois barbudos partilham a quentinha na noite sem cobertor. De igual pra igual, surreal! Perde a graça eu falar do fim do livro, mas só digo uma coisa a vocês; é a cara de Caó, na sua criatividade e despojamento que o engrandecem mais ainda. Aqui, momentos de uma trajetória renovadora, sem perder a autoria de uma pegada doce, alegre, liricamente louca e inteligente do amigo Caó, que conheci nos fins dos anos 70. Excelente para a cabeceira, quer dizer, cabeças no (do) tempo presente.
(Ângela Peroba)


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A poesia desenhada de CAÓ Cruz Alves


O Fórum Social Mundial, que acontece de 13  17 de março em Salvador, reunindo lideranças, estudiosos e pensadores de vários países  debatendo temas da atualidade, será o ambiente de lançamento da primeira edição do livro Almofadas Com Pelos de Gato e Outros Desenhos, do cartunista Caó Cruz Alves. Trata-se de mais uma publicação que revela os traços do desenho crítico, poético e repleto de humor do autor soteropolitano, que por oito anos residiu na França, projetados em 64 páginas sem textos, pura banda desenhada expondo em cada quadro o melhor da produção do criador.
“Caó por dentro é gato. Os desenhos do Caó, que vão deixando pelos de gatos por onde passam são líricos, amorosos, seu humor é sutil, quase silencioso. Não gargalhamos, sorrimos de pura delícia. Ao terminar o livro queremos mais... os desenhos do Caó deixam rastros na gente”, diz Roseana Murray, no texto de apresentação do novo livro de Caó, ela escritora carioca com dezenas de publicações, algumas das quais ilustradas pelo amigo cartunista baiano.  

“Ele vem com a mesma pegada do Papagaio Com Rabo de Boi, que foi feito em 83”, comenta Caó sobre o livro editado pela Bigraf. “ É uma série de 60 desenhos que, por não terem textos, permite ser entendido por pessoas de todas as idades e de qualquer lugar do mundo. Eu procuro fazer uma coisa, como a Roseana falou, uma coisa lírica, talvez poética. É um livro de poesia desenhado”.
Cartunista e diretor de filmes de desenho animado, Caó Cruz Alves tem trabalhos  apresentados em mostras realizadas no Brasil e exterior e seus livros, alternativos – Eu mesmo saio por aí vendendo”, diz - de produção independente, raramente são expostos em livrarias.  “Tratam-se de desenhos que são atemporais, que permitem serem entendidos em qualquer época. Mas, as pessoas não compram livro de desenhos, elas leem o desenho, acham graça e depois deixam no local, vão embora. É diferente do livro que tem texto que as pessoas levam pra ler em casa”.
“ Atualmente a gente está vivendo muita violência, muita coisa absurda, mentiras, falsidades, então eu acho que o papel do cartoon é exatamente este de provocar. Já foi provado que você ler cartoon fica com a estima elevada, porque você se identifica com determinadas ideias, entre parênteses absurdas, mas que você diz alguém pensou nisso. Eu também tinha pensado de uma outra forma. Minha cabeça tá legal, não predico ir pra o psicanalista”, conclui mais uma vez sorrindo. Nas páginas, o leitor irá se deparar com temas universais como o cinema, a música, as artes plásticas, literatura e outros.  
 Como também escreveu o poeta e compositor baiano José Carlos Capinam, sobre a obra do cartunista, “as raízes irônicas e líricas de Caó progrediram. Seu traço não domesticado encontra no leito anárquico do humor, um esboço mordaz, romântico, e desenha um autor capaz de nos arrancar, ao final de cada leitura, uma cumplicidade silenciosa sorrindo dentro da gente. É a fisgada da invenção”. O autor de Almofadas Com Pelos de Gato e Outros Desenhos está disponível para o público amante do cartum via facebook e pretende, depois do Fórum Social Mundial em Salvador, fazer outros lançamentos da nova cria em espaços alternativos da capital baiana e além fronteiras.     

(Nelson Rocha)

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O Porco com Cauda de Pavão foi criado em 1977.

Inicialmente foi o título de uma exposição realizada no Instituto Brasil-Alemanha (ICBA). Os desenhos expostos eram HQ, cartuns, poemas processo e outras experiencias gráficas. O personagem - um porco com uma cauda de pavão - já estava no cartaz da exposição, mas apenas ilustrando o título. No ano seguinte deu-se início a publicação das historinhas em forma de tiras no jornal A Tarde. Os personagens secundários, assim como a caracterização de cada um, foram sendo criados nas publicações, ou seja, não tinha uma bíblia com o perfil específico de cada um. Em 1979, com o apoio da Bigraf, Graphos e o próprio jornal A Tarde, essas tiras foram reproduzidas e publicadas em formato livro com a tiragem de 1000 exemplares. Depois de lançar em Salvador numa banca de revista de rua lancei em São Paulo no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Depois foi lançado em diversas cidades do Brasil, distribuído em várias livrarias e vendido de mão em mão dentro do esquema alternativo da época. O Porco com Cauda de Pavão é considerado primeiro livro de HQ produzido na Bahia. Ele ganhou tradução para a língua francesa e foi feita negociação para ser publicado na revista infantil semanal PIF, porém não publiquei nessa revista por não aceitar a concessão de eliminar o  personagem Waldemar, o que só tem uma cabeça e anda num carrinho. Só fui entender a razão da "implicação" por este personagem, anos depois: ele lembra as cabeças cortadas na guilhotina durante a Revolução Francesa. 
 A segunda fase da série foi publicada na década de 1990 nas páginas cultural do jornal Bahia Hoje.

(Caó Cruz Alves)